quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A Ascendência Espanhola.


Os Carneiros e a Estrela (Parte III) por Kate Agnelli.

Tereza.

Devido a Primeira Guerra Mundial, muitos foram forçados a se despedir de uma Europa em chamas. Embora a Espanha não tivesse participação efetiva na guerra, os rumores iam e vinham por todo lado. Antonio Sanchez assustado e temendo uma nova repetição inquisidora em seu país, vendeu o comércio de vinhos que possuía em Sierra Nevada. Era viúvo, de origem Sefardita. Sua mulher Francisca morrera de câncer. Pensou muito, trocou todo o seu dinheiro por Libras Esterlinas ( era a moeda forte da época ), tomou sua filha Tereza e seu filho Pepe e rumou para o Brasil. Estava desolado e sem destino. Deixava toda uma vida muito bem conhecida nas montanhas. Não sabia o que iria encontrar pela frente, mas teve a audácia de tentar.

Chegou num daqueles navios carregados de esperança, que atracavam no porto de Santos. Quando pela primeira olhou para o Brasil, comparou-o a um pavão. Tal o colorido que se abria ao seu redor no amanhecer. Estava acostumado aos tons suaves das montanhas da Andaluzia. Indicaram-lhe uma pensão para imigrantes. Atordoado pela viagem e sem entender o Português direito, parecia estar dentro de um sonho. Foi descansar numas das muitas pensões para imigrantes que existiam por lá, naquele tempo. Muitos também eram os gatunos prontos para dar o bote no primeiro inocente. Dois deles logo perceberam que Antonio Sanchez estava sozinho com uma filha jovem e um menino, ficaram observando. Armaram uma falsa briga quando ele passava. Atordoado pela violência o pobre Antonio tentou salvar a falsa vítima. Foi roubado em todas suas economias. "Asta para cruzar la cali hay que ser profissional", foi o que lhe disse sua filha, depois do ocorrido. Ali mesmo na região do porto separou-se a família... Viajaram de trem com tantos outros imigrantes de várias nacionalidades todos em direção à São Paulo. Através das janelas do trem olhavam espantados a vegetação exuberante da Serra do mar. Folhas imensas, árvores floridas. Não podiam acreditar em tanta beleza. Haviam visto muitas flores, mas em arbustos pequenos. Tudo era claro, tudo muito verde...
E o mar foi ficando para trás, o céu casando com as montanhas ao longe e a Espanha perdida para sempre...Tereza nunca perdoou o pai por ser tão ingênuo numa terra estranha. Por sua ingenuidade pagaram caro. Foram parar na imigração que os selecionou para trabalhar numa fazenda de café. Eles que sempre foram comerciantes. Foi tudo muito difícil para Tereza que recém saída de um colégio, falava Francês, lia D. Quixote e sabia decor o Latim. Era delicada, muito branca, com longos cabelos castanhos claros e olhos cinzas. Sua figura esguia encantava pela beleza e educação. De nada valeram seus dotes, foi parar mesmo na cozinha da fazenda. No primeiro dia de trabalho olhou espantadíssima com o tamanho das panelas. Enquanto aprendia a lidar com elas percebeu que um vulto estranho aparecia e desaparecia na porta da cozinha. Assustada, imaginava estar tendo visões ou ficando maluca por causa das atribulações que passara. Pegou uma espingarda, que estava pendurada na parede, mas nem podia com o peso, também não sabia como funcionava, mas era uma arma!
De repente o vulto pulou na sua frente dando uma gargalhada. Tereza soltou um grito e derrubou a espingarda. O vulto era um negro que logo a ajudou a recompor-se. Ele ajudava nos serviços gerais da casa. Tereza nunca tinha visto um africano em toda sua vida. Seu coração batia mais que os tambores da África. Aos poucos foram se entendendo entre as panelas e o fogo. Um equilíbrio necessário para a sobrevivência de ambos. Vez ou outra Tereza flagrava o negro observando-a completamente hipnotizado. Um arrepio de frio percorria sua espinha.
Certa noite sob a luz fraca de uma lamparina Tereza lia os jornais para os outros empregados, quando foi surpreendida pelo patrão. Furioso o homem tomou-lhe o jornal das mãos e mandou que todos fossem dormir, pois os pagava para trabalhar e não ler jornais. Grande desgraça de Tereza, o fazendeiro era analfabeto, contou lhe o negro. Jamais perdoaria uma empregada sua ser letrada. Começou a perseguí-la. A inteligência sempre assustou o poder em todos os tempos... O negro avisou-a que o homem não era de brincadeira. Ele mesmo já tinha visto muita coisa feia durante sua vida naquele lugar. Com medo Tereza chamou seu pai e expôs a situação O velho Antonio, embora cansado, pois os anos já pesavam, num ímpeto de coragem, fez suas trouxas e resolveu fugir dali com a filha. Era uma noite quente, nublada. O bom negro ajudou-os a chegar até os trilhos do trem, pois sabia andar muito bem na escuridão. Sem saber que direção tomar optaram por seguir a estrada de ferro, única coisa que conheciam bem, com certeza daria em algum lugar... Entre tombos e arranhões, cansados de andar apalpando a escuridão, numa noite de poucas estrelas, pararam para descansar. Num determinado momento um raio de luz iluminou as faces de Tereza. Chamou o pai que já estava adormecido pelo cansaço. Os dois maravilhados viam pequenas luzes que acendiam e apagavam. Logo imaginaram ter encontrado alguma civilização. Correram cheios de esperanças, como pequenas mariposas em direção àquelas luzes, mas elas continuavam indo de um lado para outro sem direção definida. Apareciam e desapareciam. Atordoados, caíram num lamaçal. Estavam exaustos. Não eram luzes. Eram umas das nossas pequenas maravilhas da natureza os pirilampos... Eles não conheciam, nunca tinham visto tal coisa nas montanhas de Sierra Nevada. Voltaram a caminhar pelos trilhos de ferro, pois de natureza tropical pouco entendiam. Cansados, desiludidos...
Enquanto caminhava Tereza via passar pela sua memória imagens e paisagens da sua infância nos campos altos da Andaluzia. Via-se atirando flocos de neve nas cabritas, podia ver a Espanha do alto, e conseguia ver tão longe...
Quantas vezes deitada na relva, imaginara-se viajando para além daquele horizonte na estrada do arco-íris para encontrar um pote de ouro como dizia a lenda. Agora que descera para o chão, não sabia por onde começar, onde estaria seu tesouro?
Apesar de extenuados continuavam caminhando até a aurora despontar, vermelha e clara , num Brasil desconhecido. Avistaram ao longe algumas casas. Ao aproximarem-se viram com grande alívio a estação de trens. Sem dinheiro, sem provisões, tantas coisas passavam pela mente às vezes como um sonho, às vezes como um pesadelo sem fim. E a primeira humilhação da lei de sobrevivência; precisar pedir, seja lá o que for, comida, favores... Quase mais nada restava de pertences, a não ser um livro de orações, presente de uma freira e um cordão de ouro que fora de sua mãe e que possuía o escudo de Davi...
Entraram num armazém. Tropeçando nas palavras Antonio Sanchez expôs a situação. Ao ver ouro, poucas palavras são necessárias. Lá ficou o último "recuerdo" de toda uma geração. O Homem deu-lhes uma quantia em dinheiro, muito abaixo do valor real. Foram até a estação compraram os dois bilhetes até onde o dinheiro dava...O que mais queriam era sumir daquele lugar. A fome apertava, repartiram um único pedaço de broa e dois ovos cozidos que Tereza sabiamente colocara num embornal.
Quando ouviu o apito do trem, ela sentiu um certo alívio no coração, mas ainda não sabia em que direção iriam, apenas entraram no vagão e finalmente se sentaram. Embora os bancos fossem de madeira dura, naquele momento tornaram-se uma bênção. Sentada perto da janela ela via as imensas plantações de café, passando, passando, monótonas, atordoantes. O balanço do trem e o cansaço fizeram-na adormecer profundamente por horas. Só acordou com os chamados insistentes do seu pai, sacudindo-a, tinham chegado ao fim da linha. Os bilhetes de passagem terminaram alí
Era a estação de "Ferraz Salles" em Ribeirão Bonito, onde os Agnelli possuíam o armazém. Tereza chegara ao fim do seu arco-íris. D. Giustina ao ver aquela moça delicada, com roupas sujas de lama e com um olhar firme de dignidade, tomou-se de compaixão. Ela que espantava os bêbados com porrete, tinha um coração de manteiga. Antonio Sanchez e sua filha tentavam explicar a situação num portunhol atrapalhado para uma família de Italianos, que pouco entendiam do português. Os fatos falam mais que as palavras, acabaram se entendendo com a linguagem do coração. Giustina como o próprio nome dizia era justa. Deu roupas limpas à Tereza. Alimentou-os como toda boa "mamma" Italiana. Deu-lhes abrigo.
Apesar de ainda estarem desconfiados os dois aceitaram a oferta. Sempre estavam alertas como todo sefardita "Cada cosa a su ora"... O filho de Giustina, Antonio Agnelli já moço, não conseguia tirar os olhos da linda espanhola, que resistia bravamente aos impulsos conquistadores dele. Tereza aprendeu Português, Italiano e a complicada contabilidade brasileira ao mesmo tempo. Vendo que a moça era de princípios fortes, muito diferente de suas conquistas anteriores, resolveu casar-se com ela. Os pais dele logo aprovaram a escolha mesmo porque Tereza era ótima para ajudar na contas do armazém. Casaram-se sem muita pompa na cidade de Ribeirão Bonito, no dia vinte e cinco de abril de 1912.
Além de Antonio, os Agnelli tinham outros filhos; Ernesto, Maria, Violindo, Ana, Itália, Deolinda, Josefina, Augusto e Lídia. Ernesto casou-se com Tereza Ambrósio, de Dourado; Maria com João Novaes, de São Carlos, onde possuíam a "Torrefação Novaes"; Itália foi para Bauru, casada com Edgar Bicudo. Josefina morreu dois meses após o casamento com Manuel de Almeida. Augusto casou-se com Marina Marcondes, de São Carlos, sendo pais de Terezinha e de José Augusto, moradores de São Carlos. Finalmente Lídia ,casada com César Guedes, sobrinho do padre que amaldiçoou Dourado. Dois filhos Fortunato e Marina. Foram morar em Curitiba.



Antonio e Tereza ao lado de genros e noras.




Justina Agnelli (filha de Antonio Agnelli e Tereza).




Tereza Agnelli e Zilda (filha).






Ver também:
Nossas Origens.

Festas Regionais.

Os Carneiros e a Estrela (Parte I).

Os Carneiros e a Estrela (Parte II).

Cartas de Germano Agnelli (2ª Guerra Mundial).


O Turismo em Dourado.

http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/08/dourado-e-o-turismo.html


“Não é possível você construir uma identidade num país que não tem memória. Através dessa informação histórica podemos mostrar o papel do imigrante na construção da sociedade moderna”.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Dourado e a Imigração Italiana.

Os Carneiros e a Estrela (Parte II) por Kate Agnelli.


Retomando o tempo, roubando lembranças e aprisionando-as no papel, vou contar a história ouvida das tias, avós, enfim das pessoas mais velhas.

Era o começo deste século. O Estado de São Paulo estava sem a mão-de-obra gratuita dos escravos, recém libertos pela Lei Áurea. Os cafezais estavam parando. O que fazer se perguntavam os fazendeiros? A resposta veio através de uma Europa convulsionada por mudanças, com gente sobrando. Contratar trabalhadores estrangeiros. Foi a solução. E vieram os Italianos. Pressionados por uma Itália enfraquecida e ainda lutando por uma unificação dolorosa, muitas famílias Italianas viram na imigração uma luz de esperança. Chegavam aos milhares com o intento de "Fare l 'America, ma che bruta America!” Outros também vinham por causa das perseguições ideológicas contrárias à igreja Católica, grande poder na época.

Entre os reacionários estavam os Agnelli, que apesar do nome significar carneiros, nada tinham de manso, ao contrário, eram bravos e corajosos como tigres. De temperamento altivo, trabalhadores incansáveis, inteligentes, logo impuseram respeito.

Na verdade no final do século passado grandes transformações ocorriam por toda a Europa, o capitalismo e a industrialização forçavam muitas famílias camponesas analfabetas a miséria. Desde 1870 a Itália não sabia o que fazer com o número cada vez maior de desempregados. Ao mesmo tempo pequenos produtores rurais se viam afogados em dívidas, por causa da alta taxa de impostos sobre a terra. Acabavam engolidos pelos grandes proprietários rurais, que compravam suas terras por um preço muito abaixo da cotação real. Esses pequenos agricultores também acabavam na imigração...




A maior parte sequer sabia onde ficava o Brasil, não imaginavam o que iriam encontrar e o quão terrível podia ser uma viagem de navio para atravessar o Oceano Atlântico. Alguns nunca haviam saído de seus pequenos vilarejos...As famílias eram enormes, todas com crianças pequenas. Muitas vezes vinham todos, os avós, os pais, os tios, até os vizinhos.

No início da imigração a grande maioria dos italianos eram Vênetos, principalmente porque tinham grandes conhecimentos de agricultura. Segundo o autor P.Ghinassi "os meridionais(...) não amam a terra como os camponeses do Norte(...).De natureza versátil, engenhosos e irriquietos se adaptam a todos os trabalhos e profissões, mesmo as mais humildes e algumas vezes abjetas, desde que consigam um lugar imediato. Estes constituem a espinha dorsal dos diaristas (camaradas e trabalhadores por turma) ..) vão para as fazendas, mas não se dobram à prepotência e geralmente ficam ali só durante a colheita, depois passam para outras ocupações e quando essas terminam se repatriam para participar da colheita na cidade de origem".

Os Agnelli eram da Toscana da região de Arezzo. Como tudo estava ficando mais difícil e tendo eles se envolvido nas contendas locais pela posse da terra, viram-se ameaçados de morte. Num ato de coragem D. Violanda resolveu imigrar para a Argentina, trazendo apenas os filhos mais velhos. Com imensa dor no coração deixou os pequenos na Itália escondidos nas casas dos amigos. Mas mesmo na Argentina foram descobertos por fanáticos e novamente ameaçados. A solução foi vir para o Brasil. Trouxeram documentos, uma "burra" com jóias, ouro e demais valores carregáveis.

E o Brasil da época significava São Paulo dos cafezais, que logo aprenderam, era o que comandava a vida por aqui. O café que desconheciam era para eles no começo uma frutinha verde como a esperança, ia ficando vermelha e ardida, pois o sol em peles delicadas, fazia nascer um sentimento de raiva, finalmente acabava se tornando seca e escura como a vida cheia de tristezas e desilusões, depois de alguns anos na lavoura cafeeira... Muitos morriam de febre amarela, de bexigas. As mulheres enlouqueciam por causa de partos sem cuidados. Crianças descalças eram vítimas de picadas de escorpiões, de cobra, alguns acabavam cegos devido ao tracoma que ataca olhos pouco acostumados ao sol do clima tropical. Era como se eles tivessem chegado num outro planeta.

Mas aquela gente montanhesa de pele clara e de grandes reuniões familiares, tinha uma vontade indomável, mesmo nos anos de profunda nostalgia da terra natal.

Alguns italianos ingênuos vinham também ludibriados por promessas de ganho fácil. Inicialmente os Agnelli vieram para a região de São Carlos, mas acabaram por se instalar em Ribeirão Bonito. Lá montaram um grande armazém de produtos importados, como azeite, azeitonas, queijos e vinhos, na estação chamada "Ferraz Salles", parada obrigatória do trem da Douradense.

Os Agnelli exportavam café e importavam produtos inexistentes por aqui. Eram donos da Fazenda Pedra Branca. Naquela época ocorreu uma superprodução do café brasileiro. Em 1906 foi feito o convênio de Taubaté, uma medida que defendia o preço do produto. Isso custou muito caro para a economia do país, resultando em dívidas externas e competição de outros países no mercado mundial. Por essa época, em Dourado foi fundado o primeiro Grupo Escolar, inaugurado em 3 de agosto de 1908.

De arquitetura arrojada, projeto de Manuel Sabater. Com um frontão principal, decorado com duas estrelas de Davi... Quem conseguiu a aprovação da obra no governo de Jorge Tibiriça, foi o Dr. Carlos José Botelho, que também era Arruda... Em 1909 escreve o autor italiano, Paolo E. de Luca: "Os nossos imigrantes brasileiros são quase todos agricultores, provenientes, na sua maioria das províncias meridionais (...) muitas cidadezinhas da Calábria e Basilicata se tornaram quase despovoadas pela desenfreada emigração para o Brasil(...) Do Norte saem os Vênetos(...), dirigem-se de preferência para o estado de São Paulo e de lá se formam duas correntes distintas; uma se enterra campo adentro se dedicando à agricultura, a outra fica nas cidades e subúrbios, para exercer qualquer espécie de atividade. A primeira corrente é constítuida de pessoas provenientes na sua maioria de cidades vênetas, a outra da Itália central e meridional"

O trabalho do plantio do café era duro. Primeiro derrubava-se a mata, em geral no mês de abril, pois a chuva havia diminuído. A derrubada era feita com facões, machados e foices. Abatiam a mata natural, que se vingava com picadas mortais de cobra. Deixava-se a vegetação secar , para por fogo em agosto. A madeira ainda verde que sobrava, era utilizada em construções e as cinzas como adubo. Durante o tempo de espera da secagem, fazia-se viveiros de mudas de café. Após o desmatamento formava-se o cafezal. Por entre as "ruas", os imigrantes plantavam milho e feijão. Os contratos de trabalho duravam, em geral, cinco anos. O tempo de o café crescer, ser cuidado até a colheita.

Havia casos e conflitos entre colonos e fazendeiros. Os italianos diziam "desgraçado daquele que possuir mulher ou filha bonita", pois eram constantemente assediadas por capatazes inescrupulosos, que ainda perseguiam os homens espancando-os sem motivo aparente. Inúmeras queixas chegavam ao Consulado Italiano. O grupo dominante acabava por expulsar a família inteira, caso a mulher não cedesse aos caprichos desonestos. As mulheres possuíam uma carga de trabalho tremenda, pois cabia a elas, além de parir os filhos, fazer o pão consumido pela família, cuidar dos animais domésticos e o cultivo de cereais. Todo esse trabalho resultava numa certa economia para a família.

Para muitas famílias imigrantes recém chegadas a surpresa era muito grande pois, ao chegarem ao Brasil, recebiam a terra coberta por vegetação, não tendo sequer uma cabana para se abrigar, dormiam ao relento até construírem o primeiro casebre. Desmatar. Queimar. Plantar, mais quatro anos de espera até a primeira colheita. Com o preço do café caindo, os fazendeiros acabaram proibindo a plantação de cereais entre as "ruas de café". Um duro golpe para os colonos.

As greves começaram em 1913, segundo jornais da época. Muitos fazendeiros não queriam contratar italianos do sul, pois diziam que eram muito"encrenqueiros". Na verdade foram os primeiros a não se deixar dominar pelo poder. Iniciava-se um novo período, o do trabalhador assalariado. Naqueles anos muitos imigrantes retornaram a Itália tão pobres quanto saíram. Isso acabou por desestimular a evasão. Na Itália começava a industrialização e o operariado. No Brasil, os italianos resistiam ao desfacelamento familiar, mantendo seus valores originais, apesar do desrespeito imposto pelas oligarquias.

Natale Agnelli, sua mulher Giustina com o filho mais velho Antonio jovem de grande estatura, olhos azuis, temperamento ardente, terrivelmente sedutor. Antonio Agnelli crescia cheio de saúde num Brasil pleno de possibilidades de desenvolvimento e tantas coisas para descobrir. D. Giustina, mulher de temperamento forte, mantinha um porrete atrás do balcão do armazém, qualquer homem que tentasse uma gracinha ou bebesse um pouco além da conta, ela virava uma fera. Parecia o Thor deus dos nórdicos, colocava todos para correr com o porrete na mão. Ficou famosa pela valentia. Contam que certa vez um mulato forte entrou no estabelecimento e queria pinga, produto desconhecido para ela, pois so vendia vinho italiano, mas ele insistia. Numa ação rápida Giustina agarrou-o pelo pescoço e o jogou fora do local. Nunca mais voltou. Ela tinha um filho por ano, todos nascidos em casa, antigamente não havia atendimento hospitalar. Mas ela dizia, "quem tem medo de morrer, não merece viver"... Para quem veio de uma Itália desmantelada por tantas brigas, divisões internas de poder, sua alma era mesmo de um soldado. Enfrentava a vida, como uma batalha travada na guerra diária pela sobrevivência.




Antonio, Natale e Natal Agnelli.




Antonio Agnelli - Casa em construção no centro da cidade.




Antonio Agnelli e filhos.




Antonio Agnelli e Esposa Tereza.




Ver também:

Nossas Origens.

http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/04/nossas-origens-e-tradicoes.html


Festas Regionais.

http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/06/festa-sao-joao-batista-dourado-2010.html


Os Carneiros e a Estrela (Parte I).

http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/08/num-passado-distante-em-dourado.html


O Turismo em Dourado.

http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/08/dourado-e-o-turismo.html




sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Num passado distante em Dourado.


Quando vejo a praticidade e comodidade que o mundo atual oferece me deparo que temos hoje o pão logo ali na padaria da esquina, frios e laticínios nos supermercados, as casas também com seus televisores, rádios e carros com os mais repletos acessórios para uma boa viagem à longa distância. Ao dormir aquele colchão macio e edredons para as noites de frio. Mas nos tempos dos nossos avós e bisavós não era bem assim. Numa pesquisa realizada por Kate Agnelli, neta de imigrantes, teremos a seguir uma descrição rica em detalhes, de como era a vida vivida no campo e o início dos nossos ancestrais que desbravaram terras antes nunca conhecidas pelos homens. Num trecho do texto ela mesma descreve: No princípio era a mata e as águas, tudo por conquistar, tudo áspero para peles delicadas de antigos comerciantes...” Através desta leitura nos deparamos como o tempo era precioso e valorizado nas rodas de conversas ao longo de noites enluaradas próximos da fogueira ao som de uma viola.


Os Carneiros e a Estrela. (Kate Agnelli)

A infância teve papel decisivo no meu modo de enxergar o mundo. Sempre solar. Sempre acreditando que há muito de positivo, mesmo nos períodos mais críticos. Basta saber olhar...
De qualquer maneira contar a história vivida dos outros não é fácil. Inevitavelmente será a minha pequenina visão da questão. Não sou sábia o suficiente para fazê-lo, porque para ser sábia é necessário ser justa. Ter uma visão imparcial, colocar todos na mesma medida... Nós seremos eternamente filtros da verdade, mesmo não querendo e estamos todos juntos no mesmo planetinha azul. Será necessário reunir todos os seres humanos de todas as épocas para se ter uma única verdade. Tarefa impossível. Algumas vezes a lente pela qual enxergamos os fatos, pode estar arranhada, ou sem o ângulo correto, ou mesmo com as cores distintas das reais... Mas talvez o mais importante não seja como se relata, mas que nunca se perca a história. Bem vamos começar com o que se sabe e até aonde se sabe...

Muito antes dos Agnelli chegarem ao Brasil, nesta região central do Estado de São Paulo, acontecia o reconhecimento da vila de Dourado como município no dia 19 de maio de 1897. Entre muitas contentas políticas entre os antigos habitantes do local, isto é, do Bebedouro, onde residiam as famílias pioneiras, vindas do sul de Minas Gerais. Lá estavam os Cardosos, os Lopes, os Buenos, os Ribeiros, os Souza, os Correias, os de Paula, os Carneiros, os Gonçalves, Pereiras, etc. Com seus muitos filhos, suas terras, seus parentes.
Os Pereiras há muito tempo, tinham vindo de Amsterdã na Holanda fugindo de uma Europa inquisidora, que aplicava a lei do Santo Ofício. Em concordância com a igreja católica, poder maior na época, matava-se e espoliava-se famílias inteiras somente por serem de origem judaica. O nome Pereira segundo estudo português feito, era "Abendana" "Aben"-i.e.,"Ibn" - Dana ( filho de Dana) . Nas armas dos Abendanas há uma águia sobre um globo, voltada em direção ao sol. No Brasão dos Pereiras conversos ao cristianismo, exímios soldados cavaleiros usados pelo rei de Portugal na guerra contra os mouros invasores da península Ibérica, há um par de asas douradas em cima da cruz florenciada de vermelho. O quinhentista João Rodrigues de Sá deixou duas quintilhas dedicadas aos Pereiras, que são as seguintes;

Joya de nosso tesoro
Que apareceo oo rey mouro
Per milagre na Pereyra
Da vytoria certo agouro

Em tytolo de valya
Florece oje este dia
Antre a montanha & o mar
Entre Cambra, Feyra & Ouar
terra de Santa Maria

Mas apesar da bravura quinhentista, os Pereiras precisaram deixar Portugal, pois sua origem era judaica, foram para Holanda e de lá para o Brasil. Inicialmente Recife, depois Minas Gerais. Mas o longo intolerante braço inquisidor também alcançou as terras mineiras. E aquela gente séria, de princípios rígidos, que se casavam somente entre parentes foi obrigada novamente a levantar vôo. E as asas douradas apontavam na direção dos sertões paulistas... Mas com toda certeza outras asas invisíveis acima do saber humano observavam a grande luta e a lenta comitiva de mulas, carros de boi, jacás, vacas, cavalos, homens mulheres e crianças, atravessando rios ainda sem pontes... Homens fortes, de pouco falar, olhos de falcão e um facão na mão... Um dos patriarcas da família o velho Francisco de olhos azuis profundos com seus filhos José Pedro, Joaquim e mais nove filhas, chegaram a região central do estado nos fins do século XVIII. Em Minas negociavam com pedras preciosas e tinham fazendas, criavam gado, plantavam.
As frentes de colonização avançavam para São Paulo, através principalmente dos tropeiros, primeiros conquistadores dos arredores de Brotas, região de muitas águas e vistas esplendorosas de um Brasil por crescer. Era a oportunidade de deixar as perseguições ideológicas. Mesmo porque não havia muita opção, ou enfrentavam a selva desconhecida ou a tortura já conhecida... Gente com asas não aceita gaiola, nem canga no pescoço... Compraram terras. Plantaram sementes para o futuro.

E fez-se a Boa Vista dos Pereiras...


No princípio era a mata e as águas, tudo por conquistar, tudo áspero para peles delicadas de antigos comerciantes de origem sefardita. Origem que a todo custo alguns ainda querem ocultar, porém o próprio nome Pereira anuncia a etnia. Foi justamente essa origem que lhes deu a persistência para sobreviverem a tantas idas e vindas, tantas voltas pelo mundo. Tinham a firmeza necessária, a fé inabalável para os dias mais difíceis. Durante uma das muitas travessias que fez através do rio Moji, o velho Francisco morreu afogado tentando salvar seus animais da correnteza furiosa, que ocorre todo verão. Esse traço de amor aos bichos passaria para seus descendentes. Após esse trágico acontecimento, um dos seus filhos Joaquim Pereira ficou num lugarejo que deu origem a cidade de Águas de São Pedro, ninguém nunca soube dos seus descendentes. Seu outro filho José Pedro Pereira nascido em 1830, continuou sua jornada seguindo a colonização. Desceu os rios além de Brotas. Levou suas nove irmãs para o Paraná, que ainda era um prolongamento de São Paulo. Eram elas; Ana Rosa, Mariinha, Angélica, Ignez, Íria, Vitória, Rita, Escolástica e Virgínia. Depois de ficar meses por lá e casando as irmãs, fazendo assentamentos, retornou à sede da Boa Vista no município de Brotas. Nunca tiveram notícias delas. A descida pelos rios foi muito mais fácil do que as novidades subirem as correntezas. Só mesmo a piracema...
Quantos parentes não teremos nós no Paraná?

Fico imaginando que fim levaram todas aquelas tias antepassadas. Diziam os antigos que eram louras e bonitas. Como deve ter sido difícil viver no meio da selva, cheia de pernilongos, febre amarela, calor insuportável, geadas, comer pinhão para não morrer de fome no inverno. Fugir de cobras. Mas o pior, escondendo para sempre suas origens familiares. Era como levar uma pedrada na cabeça, ficar sem memória. A pancada da inquisição tinha sido muito forte. Era preciso nascer de novo... A vida sempre foi feita de separações, por mais que se tente juntar... Parece que a estabilidade enfraquece e quanto mais se mexe na vida, mais se anda, mais sabedoria se adquire. E assim gerações percorrem o planeta para decifrá-lo e decifrarem-se...
Sempre houve esse movimento, que empurra as pessoas de um lado para outro. Por pura sobrevivência pensamos nós... Ao olhar mais atento tudo é necessário, caso contrário o ser humano nunca saberia de suas potencialidades e suas mazelas. As ondas humanas vão e vem, às vezes mansas, outras bravias e tal qual a água do mar. É salgada também. Vez ou outra encontramos alguém que nos parece conhecido há séculos, talvez seja isso mesmo! Reencontramos uns nos outros velhos genes espalhados pelo mundo afora. Não há coincidências. Há muita sabedoria em nós que não é aflorada, que passa desapercebida e às vezes se manifesta intuitivamente.
E assim José Pedro Pereira passou sua vida plantando para o futuro. Dizem as más línguas que ele era tão persistente quando queria alguma coisa, que fizeram um refrão "Zé Pedro Pereira, varejeira". E na fazenda Boa Vista foram nascendo os filhos e filhas, todos paulistas "do coração do estado de São Paulo" como diziam. As benfeitorias foram-se se somando, através do trabalho duro, feito para homens e mulheres curtidos na lida de noite a noite, das madrugadas frias até a escuridão chegar. Sem feriados. Era o monjolo, o pilão, o serrote, o gado, as galinhas, os carneiros, as vacas, o leite, o queijo, os doces, o milho, o fubá e as broinhas. Dieta saudável e forte...
Nessa época foi se formando o Bebedouro, juntando as famílias todas, casando-se entre seus membros e somando aos seus sobrenomes "dos Santos", sugerido é claro, pela igreja como sinal de unificação do vilarejo na fé Católica. Mas "ficar com o pé em duas canoas nunca deu certo"...
O Bebedouro pertenceu primeiramente a Rio Claro, depois passou para Brotas. Possuía uma escola, uma farmácia, igreja, ruas, casas. Sem destino certo pelas leis dos homens, o local acabou tendo muitas bênçãos divinas e gente hospitaleira sem igual nas redondezas. Mesas fartas, amizades sinceras, canto dolorido do carro de bois. Churrascos de carneiro, mantas de lã fiadas no tear manual, tingidas com as cores doadas pelas plantas, pelegos e baixeiros. Habilidosas bordadeiras, mulheres fortes de pouco falar e muito fazer. Excelentes domadoras de cavalos... Muitas tias e tios, primos e primas. Longas noites de inverno, histórias contadas ao pé do fogão de lenha. Canto do Urutau. Encantamento das noites de luar, sons de viola tocada nas varandas cobertas por um céu avermelhado ao anoitecer. Redes que embalavam sonhos infantis. Cachoeiras prateadas, altas palmeiras que faziam o vento assobiar, macauvas, coquinhos e tenros palmitos, gabiroba, fruta-do-conde. Angicos, Pau-ferro, Unhas-de-vaca, Sete-capotes, Ipês, Jatobás, Pau-marfim, cipó Imbira, etc. Macacos espertos, gansos sinaleiros, garnisés implicantes, galinhas d'angola sempre fraquinhas...Bandos de maritacas fofoqueiras, garças pacíficas, pinhés caçadores, bem-te-vis. Veados campeiros, lobos guará, jacarés sonolentos... Som monótono da roda d'água e do monjolo fazendo alimento para homens e animais. Café torrado, melado e bijú. Coalhadas purificadoras. Grandes tachos de cobre areados com areia branquinha do ribeirão. Gamelas cheias de soro de leite. Queijos. Moinhos, ribeirões e lambaris, pedras redondas repletas de quartzo plenos da magia dos reflexos coloridos da luz . Chás caseiros, sabedoria na utilização dos remédios da natureza. Histórias de sacis levados, de assobio fininho, trançadores noturnos de crina de cavalo, da "bola de fogo das dez da noite", que aparece e desaparece atrás do morro. Trovinhas ensinadas para as crianças como "caixinha de bom parecer, não há carpinteiro que saiba fazer"" ou "ele mora dentro dela e nunca sai da janela". A magia de um céu encantadoramente azul e impassível... Geadas e caraguatás, símbolo perfeito para o Bebedouro, planta espinhosa, com uma linda flor que atrai insetos e beija-flores, uma bromélia, uma das mantenedoras do meio ambiente das matas nativas... Das folhas espinhentas do caraguatás os Índios tiravam uma fibra que teciam o "Ñanduti", redes e rendas. Por lá ainda existem também vestígios de picadas feitas pelos soldados brasileiros na longa caminhada para lutar na triste guerra do Paraguay... Local de maravilhas e de lutas pela afirmação como município. Batalha perdida para Dourado que tinha apoio político da igreja. E o São João Batista, padroeiro escolhido que havia sido comprado por Jacinto Heliodoro dos Santos na cidade de Rio Claro para a capela do Bebedouro, foi roubado por João José Gregório e levado para a igreja em cima da serra, que se chamava São João Batista dos Dourados, devido à pesca do peixe dourado, abundante no rio Jacaré-pepira.
Naquela época as imagens de santos vinham na sua maioria da Itália. O trabalho que Jacinto Heliodoro teve para buscá-la em Rio Claro foi uma empreitada para a época. Não havia estradas, só picadas no meio da mata. O lento carro de bois, levou oito dias para chegar ao seu destino. As mulas carregadas de bruacas, os cavalos com os piquás cheios de rapadura e fubá. Tiveram que levar, água em purungas, pois não existia muito vasilhame. Junto foi a sua pequena filha Maria Jacinta de apenas oito anos para ajudar a puxar a comitiva. Aprendia-se a sobreviver muito cedo.
Tudo é para o bem diz a lenda judaica, não há mal absoluto em nada, em ninguém. Mas o sofrimento turva a visão das pessoas, a dor ou embrutece ou eleva, dependendo da natureza íntima de cada um. Dourado foi proclamado município no dia 19 de maio de 1897, pela lei numero 502, desligando-se de Brotas e juntando-se a Ribeirão Bonito, ficando dependente judicialmente dessa cidade. Arrebanhou terras de um lado, mas perdeu de outro, ficando na canga de Ribeirão Bonito até hoje...
Houve um padre chamado Guedes que muito amigo do pessoal do Bebedouro que não agüentou ver a injustiça com os pioneiros. Dizem que deixou Dourado a pé indo na direção do Bebedouro, mas ao passar o último riacho da cidade, tirou as sandálias dizendo, que daquele lugar não levaria nem o pó nos pés. Ao fazer isso amaldiçoou a cidade por cem anos, que durante esse tempo nunca haveria progresso... Parece que a praga pegou, dizem os supersticiosos. A eterna briga pela posse da terra, como diria Quincas Borba de Machado de Assis "ao vencedor as batatas..."


Ninguém imagina que o nosso maior inimigo é o tempo. Esse sim nos espreita tal qual um tigre em cada esquina da vida pronto para dar o bote... Somos hóspedes desnecessários no planeta e por tão pouco tempo, que não dá para compreender tanta necessidade de posse, Não possuímos nada, nem a nós mesmos. Sequer pagamos condomínio para D'us.
Mas enfim parece que realmente as separações são necessárias e Dourado separou-se de Brotas, como um divórcio mal resolvido. A Boa Vista dos Pereiras ficou no município de Brotas. Os filhos de José Pedro Pereira foram; José (Juca), Luiz, Firmino, Carmelina, João, Avelina e Batista . José também conhecido como Juca, casado com Valentina, rumou para Andradina junto com os amigos Moura Andrade, pois eram todos da mesma origem, como uma grande família. Teve oito filhos, Sebastião, Maria, Jacinto, José Pedro ( Pedrinho), Antonio, Ananaias, Augusto e Orazil. Luiz foi para Iacanga onde criou raízes deixando numerosa descendência, casou duas vezes. Do primeiro casamento com Maria Venância teve Otávio, Osvaldo, Oscarlina, Orlando, Olavo, Maria (Tota) e Zulmira, Do segundo casamento com Anna vieram Odila, Onofre, Odil, Olga e Ofélia seguindo eles com terras e gado. Carmelina casou-se com Francisco José de São Carlos e teve os filhos ; Aurora, Maria Joaquina (Joaquininha), Arminda, Laura que se casou com um dentista e foi embora para o Rio de Janeiro. Marica, Francisca ( Chiquinha) casada com Monteiro, onde possuía a chamada "Chácara Monteiro", que se tornou bairro da cidade. Avelina teve seis filhos; Avelino, Fernando, Aquiles, Antonio, Eduardo e Marcílio. Batista casou com Antonio Mendes teve uma única filha, Maria São João casada com Domingos Carneiro de Campos, deixou muitos descendentes no Vale do Paraiba, Campinas e Leme. João de olhos azuis como os do avô teve dez filhos; José, Leontina, Batistina, Erostina, Alcides, João, Durvalino, Quíria, Venâncio e Lidinha, a maioria acabou ficando em Dourado também com numerosa descendência.
Finalmente Firmino, foi o único que ficou na fazenda Boa Vista, local de belezas eternas, muitas nascentes de águas claras, um verdadeiro oásis. O céu habitava na terra verde repleta de rebanhos de carneiros brancos, como nuvens doadas pelo Senhor...Para ele era sua terra prometida.
Quando o Bebedouro separou-se de Brotas, a pequena escola que havia lá foi retirada. Levaram até os tijolos e as telhas. E Firmino que era casado com uma prima Anna , tinha já filhos, todos necessitando de aprender. Ele não desanimou mandou o carro de bois com empregados cortar aroeiras na mata, serrou todas em tábuas na sua própria serraria, ergueu uma escola, cobriu com telhas da sua olaria e fez todas as carteiras e bancos. Chamou um professor de São Paulo para inaugurar a escola, era Osvaldo Aranha. E fez-se a escola da Boa Vista dos Pereiras. Certa vez perguntaram porque na sua fazenda não havia capela, na sua sabedoria milenar Sefardita, Firmino respondeu que a casa de D' us era o mundo.
Uma imensa figueira com seus galhos esparramados, plantada ao lado da porteia da entrada da fazenda, dava sombra e as boas vindas aos visitantes...
Estabeleceu-se um período de paz. Firmino e Anna tiveram os filhos José, Maria, Santo, Serafina, Luísa, Firmino Filho, Isaura, Osório, Mário, Luiz e Ana (Nica). E a história não pára como gostaríamos de pensar, tudo continua quer se goste ou desgoste. Os filhos de Firmino aprenderam muito na pequena escola de aroeira. Lá aprenderam também os filhos de imigrantes de várias etnias.
Havia uma família muito amiga dos Pereiras que de vez em quando vinha fazer uma visita, contar "uns causos" na varanda, tocar uma viola caipira. Era a família Moura Andrade, que tinha um filho já grandinho. Firmino perguntou se o menino já sabia ler. O pai sem graça disse que não, pois não tinha como o pequeno vir para a escola, porque os animais estavam todos na lida. Firmino generoso como sempre, disse "o caso já está resolvido, de amanhã em diante ele começa a vir para a escola" mandou que buscassem uma mula muito boa e deu de presente para que o garoto estudasse.
Esse menino tornou-se um homem de muitas cavalgadas, fazia comitivas de bois para o estado de Mato Grosso, acabou fundando a cidade de Andradina, dizem que era "o rei do gado", muito cantado em modas de viola...
O filho mais velho de Firmino chamava-se José, de mansos olhos azuis, casado com Eliza de Moura, tiveram uma única filha, mas criaram orfãos. Maria ficou solteira, vivia para ajudar os irmãos e sobrinhos , um verdadeiro carvalho pronto para doar sua sombra. Santo era o intelectual da família, lia muito, fazia a contabilidade da fazenda. Também ficou solteiro. Vivia implicando com as pessoas que queriam introduzir imagens de santos na casa, dizia que eram "adoradores do bezerro de ouro" e até ficava malcriado. Morreu entre seus amados livros. Foi ele que me contou a história da diáspora do povo judeu, quando eu tinha apenas cinco anos. Nunca pude esquecer... Serafina casou-se com um primo Heliodoro, filho daquele que comprou o santo da discórdia do Bebedouro. Teve cinco filhos; Áurea, Pedro, Francisco, Maria e Jacinto. E juntaram as terras. Firmino (filho) casou-se como de costume com uma prima também chamada Nica, tiveram dois filhos: Silvia e Flávio, juntaram heranças. Luisa para não fugir à regra casou com o primo Geraldo, teve cinco filhos, duas filhas morreram jovens, restando João, Creuza, Geraldo, também juntaram mais terras. Luiz casou-se com Linda, não tiveram filhos. Exímio carpinteiro, conhecedor profundo das escrituras, a bondade personificada, sua viúva o pranteia até hoje, fala com ele como se estivesse realmente ainda neste mundo. Mario casou-se com Nair Rodrigues tiveram cinco filhos, Mauro, Mauri, Marcos, Márcio e Magali. Isaura casou-se com Violindo Agnelli, este é um capítulo à parte. Anna ( Nica) casou-se com Edner Alves (Inca), filho de meeiros da fazenda e neto do homem que roubou o santo impedindo o Bebedouro de tornar-se independente. A família foi contra seu casamento. Tiveram três filhos; Rosana, Antonio Roberto e Andrea. Sua vida foi muito, mas muito difícil, mas manteve total integridade de coração. Tornou-se espírita. Foi desprezada por muitos da família. Aqueles que quando tinham atribulações, corriam às escondidas a sua casa para pedir ajuda, mas que todo Domingo iam bater ponto na missa...
Muita gente ainda acredita que os outros ou D'us podem mudar suas vidas, quando na verdade, eles é que precisam mudar interiormente, para que tudo mude a sua volta. Osório casou-se também fora da família com uma filha de Italianos. Este é outro capítulo.



Isaura Pereira Agnelli, era casada com Violindo Agnelli irmão de Antonio Agnelli.





Esta é uma foto histórica dos anos 20. É escola da Boa Vista dos Pereiras fundada por meu avô paterno Fermino Pereira ( eu não o conheci ). A escola feita em tábuas deve existir até hoje (Bairro do Bebedouro). O Professor contratado por meu avô era Oswaldo Leite Aranha. Nesta escola também estudaram os Agnelli, assim como muitos imigrantes de várias etnias.






Escola de Tábuas, construída nos anos 20 (Bebedouro - Dourado).






Fazenda Boa Vista dos Pereiras (Bebedouro).







Vejam também neste Blog:


Os Carneiros e a Estrela.

Cap. II.

Cap. III.









terça-feira, 3 de agosto de 2010

Dourado e o Turismo.

Quem conhece Dourado pela primeira vez tem a forte impressão de que a cidade nasceu para o turismo. Tranqüila, com apenas 9.000 habitantes, o município impressiona pela imponência de seus casarões construídos no final do século 19. Também chama a atenção a paisagem da zona rural. Rodeada por vales e colinas e pelas florestas que recheiam o relevo, resistindo à monocultura de cana-de-açúcar.

Ideal para quem procura tranqüilidade e contato com a natureza, a pequena Dourado é grande em opções para o descanso e o lazer. Além da beleza e do ambiente diferente que predominam na cidade, a zona rural surpreende. Localizada em uma região com forte vocação turística em função de sua beleza natural, o turista que vai para Dourado pode praticar rapel, boiacross, arborismo, mega tirolesa, rafting, montain bike, entre outros esportes mais populares.




Pousada São Bento.







Cachoeira no Hotel Estância.







Capela no Hotel Estância.






Contato próximo com a natureza.






Pesqueiro Caminho das Águas.




Mas para quem não deseja se aventurar nesse campo cheio de emoções fortes, pode escolher outros passeios que buscam contemplar a natureza. Em alguns casos, o contato com os animais silvestres também é possível, como conhecer de perto a graça e a simpatia dos macacos que rodeiam as propriedades rurais. Há ainda os passeios a cavalo, que dispensa comentários. Os animais são simplesmente um encanto.

Na cidade, o que impressiona são as construções. São vários casarões que mantiveram suas características originais ao longo do tempo. As escolas, por exemplo, são prédios grandes, imponentes, com suas madeiras originais e a forte influência da arquitetura francesa, o que faz as construções ficarem charmosas e atraentes, mesmo depois de tanto tempo.



Ruas do Comércio de Dourado.








Casas de Arquitetura Antiga.












A Administração Pública tem demonstrado prioridade em preservar o patrimônio histórico do município desde praças à escolas respeitando as características originais da época em que foram construídos, deixando a paisagem urbana mais bonita e atraente para toda a população.

Por toda a cidade, há casarões dignos de foto. Mas há outro fator que o turista deve prestar atenção: o centro de Dourado. Praticamente todo o comércio ainda prefere manter a fachada de suas construções à mostra, valorizando a arquitetura antiga e preservando a história. Não há adaptações de marquises, toldos e qualquer outro tipo de interferência.



Escola Senador Carlos José Botelho.




A Praça da Matriz também é outro destaque que enriquece o visual a cidade, oferecendo para os moradores e turistas lazer e bem-estar. Vale conhecer o prédio da Igreja Matriz de São João Batista, construída no início do século XX. Anos depois, a Igreja foi contemplada com a pintura a óleo que ilustram a fé católica. A obra de arte, em estilo germânico, é assinada pelo artista plástico Franciscus Pavlovic.



Praça da Igreja Matriz.



Aliás, o turismo religioso também atrai para a cidade centenas de fiéis de outras cidades, que visitam Dourado para participar da tradicionalíssima missa apresentada pelo padre José Antonio, ministrada na Igreja Matriz de São João Batista, que abençoa os fiéis com água e sal.

Além de suas belezas naturais e arquitetônicas, Dourado também se destaca por sua vocação para o artesanato.
Em 2005, mais de 40 pessoas participaram das oficinas gratuitas de artesanato ministradas pela Casa do Artesão. Esta foi a primeira parceria que a entidade firmou com o Departamento de Cultura para viabilizar o projeto.

A Casa do Artesão atua na formação e no preparo dos artesãos da cidade para o comércio. Seus associados participam de cursos e têm espaço garantido em diversas feiras de artesanato regionais e também nos eventos em que a Casa do Artesão participar.

A fabricação de móveis artesanais também é outro destaque. No passado, nos tempos áureos da ferrovia, havia várias marcenarias na cidade que atuavam na fabricação de vagões. Com a desativação do trem, a queda do café, os marceneiros passaram a fabricar móveis.

Por essas e outras razões, Dourado é uma cidade que chama atenção. Motivos para visita-la é que não faltam.


Dados da Pesquisa:

http://www.dourado.sp.gov.br/




Ver também:

Escolas e o Meio Ambiente:
https://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/07/as-escolas-de-dourado-e-o-meio-ambiente.html


O Rio Jacaré Pepira:

https://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/07/o-rio-jacare-meio-ambiente-dourado.html


Livro: Dos “Anjos” para os Homens.
http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/06/alunos-do-2-termo-lembrancas-escola.html


Procissão de Corpus Christi em Dourado.

http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/06/corpus-christi-em-dourado.html


Conheça a história de nossas ruas.
http://douradocidadeonline.blogspot.com/2010/05/rua-19-de-maio.html


Personalidade Douradense.
http://douradocidadeonline.blogspot.com/2009/09/escritora-cecilia-braga.html


Grupo Escolar - 100 anos de História.
http://douradocidadeonline.blogspot.com/2009/05/grupo-escolar-100-anos-de-historia.html